sexta-feira, 3 de setembro de 2010

POEMA VERSUS POESIA


Provavelmente já nos deparamos no curso de Letras, ou em qualquer outra situação, com uma dúvida bastante pertinente: Afinal, qual é a diferença entre poesia e poema? Será que essa diferença existe mesmo? Ou são apenas sinônimos?

As relações e as diferenças entre os dois gêneros são um pouco conflitantes, por isso o título opositivo. São tão parecidos e ao mesmo tempo tão diferentes, são quase tão intrigantes como as nomenclaturas dos fenômenos linguísticos... Quase! Mas tentaremos decifrar essa “antítese”.

O poema é uma forma fixa, tem compromisso com a métrica e é geralmente um pouco extenso, podemos até dizer que é uma “prosa em versos”. Faz, muitas vezes, referência a acontecimentos históricos, como O Navio Negreiro de Castro Alves, por exemplo. Mas apesar de ser uma narrativa em versos, fazer poema não é tão simples quanto parece. O poeta precisa desenvolver a realidade dentro de um mundo abstrato. Precisa transformar o real, o concreto, o objeto, a substância, o visível aos olhos, numa expressão poética. Quem discorreu muito sobre esse assunto foi Aristóteles, em A Poética. O filósofo dizia que a tarefa do poeta não é simplesmente narrar os fatos, ele necessita representar o que poderia ter acontecido, a famosa imitação da realidade, Mimesis para os íntimos. O poema é bastante teatral, representativo, dramático. Está em sua essência essa representação da vida, mas há quem diga que o ser humano foi quem adotou os ideais poéticos, principalmente os românticos, provavelmente foi isso que nos levou àquela que é uma das maiores indagações: “A arte imita a vida, ou a vida imita a arte?”. Talvez seja mais fácil responder se o ovo veio antes da galinha, e vice-versa. O fato é que poema é a linha em que se desenrola a poesia, é a vida representada em versos metrificados, sejam eles decassílabos ou alexandrinos, heroicos ou sáficos.

Basicamente, a poesia se compromete com a musicalidade: figuras de estilo, rimas e ritmo. Ao contrário do que dizem as más informadas línguas, poesia não é somente admirar a natureza, ou cantar a beleza da amada, ou lamentar o amor não-correspondido. Vai sim muito além do simples deslumbre, e para perceber esse fato necessitamos de um conhecimento intuitivo. O objetivo da poesia não é informar ou persuadir, pelo contrário, a poesia tem um compromisso com a emoção. É preciso ter sensibilidade, intuição e muita imaginação para compreender suas formas e mensagens. Uma tarefa um tanto difícil em dias como os de hoje. A praticidade, objetividade e o ritmo acelerado em que vivemos nos privam de entender a alma da poesia, mas por que essa compreensão é tão complicada? Peço licença para tomar as palavras de uma querida professora: “O ser humano optou pela razão e, neste momento, instaurou-se no mundo a tragédia.” Pronto.  É isso. Talvez a nossa razão seja meio cega, talvez ela ofusque esse brilho tão característico da poesia, talvez não tenhamos a sensibilidade necessária para compreendê-la, mas não nos desesperemos, pois, por sorte, a compreensão deve ser a última das intenções da poesia, logo isso não nos impede de apreciá-la. Jamais! Enquanto pudermos sentir a paz, a leveza, a nossa alma em sintonia com a musicalidade dos versos, nosso espírito se deslocando para o espaço descrito nas estrofes, enquanto pudermos nos encantar, enquanto nos emocionarmos com semelhante arte, manteremos vivos dentro de nós o ser humano, não aquele de carne e osso, mas aquele de carne, osso e coração, principalmente.

Vanessa – 4º Semestre 

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Por que cursar Letras?

Essa é uma pergunta que nós, alunos de Letras, escutamos com frequência. Geralmente ela vem acompanhada de uma cara repleta de dúvida e estranheza como se fizéssemos algo assombroso. Pensando bem, talvez tenham razão.

É assombroso o tanto de livros que temos de ler, autores a conhecer, estilos para comparar, erros para compreender, obras para analisar, caminhos infinitos a descobrir... É assombroso. É delicioso!

Não somos tão badalados quanto aqueles que cursam administração, engenharia, medicina, direito, e outros que não me vêm à memória agora, isso é fato. Contudo convivemos tranquilamente quanto a isso, pois sabemos que faz parte de nossa escolha, uma escolha que na maioria das vezes nunca é fácil justamente por já vir com tantos pesos e opiniões negativas. Conversando com alguns alunos da sala, questionando-os sobre os seus porquês e escolhas percebi como somos tão iguais e diferentes ao mesmo tempo.

Cristina adora inglês; dava aulas particulares até decidir-se por cursar administração. Gostava do curso, mas não se imaginava trabalhando na área, algo que ela quisesse ser quando crescer, logo, voltou-se às afinidades com o idioma e foi aventurar-se no mundo das palavras.

Cida optou pelo curso “só” por causa da língua inglesa como ela mesma frisa, pensando em tradução/interprete; depois foi apresentada às matérias de latim, literatura portuguesa e as análises e interpretações das outras literaturas e ficou fascinada.

Cássia diz que em “mil novecentos e...”, melhor não entrarmos em datas, digo, detalhes, já queria prestar o curso para escrever bem e dominar o “inglês” devido a sua profissão: secretária. Na época não existia curso específico. Hoje, diz-se encantada, porque não aprendemos apenas a corrigir erros, mas sim a aquisição de cultura num geral, exigindo grande exercício mental, o que nos mantém alertas para a vida.

Vanessa disse que o curso entrou em sua vida por acaso, ela que estava em dúvida entre letras e design, optou pelo primeiro por ter sido uma boa aluna de português, por sempre corrigir os erros das pessoas “seje, esteje e menas” e por achar que os livros do “Bruxo do Cosme Velho” fossem escritos para ela; diz que hoje não se arrepende por ter dado voz ao seu coração. Pretende seguir carreira na área de revisão, já que se julga um tanto egoísta para ser professora, algo que caracteriza de uma grande nobreza.

Rodrigo foi mais além. Enquanto Vanessa estava em dúvida entre dois cursos, suas dúvidas estavam pelo menos entre uns 217. Dentre tantas perguntas que fez a si mesmo, no melhor estilo de “Hamlet”, ele queria algo em que pudesse viajar, conhecer pessoas, algo que tivesse movimento, música, ação, emoção... Até um dia, na escola de idiomas, conheceu uma professora que representava o perfil de suas perguntas, finalmente encontrara a sua resposta e para sua surpresa, a fantástica professora não havia cursado jornalismo, nem turismo, nem rádio TV, mas sim letras; desanimado pela descoberta e incentivado pela musa inspiradora foi assistir a uma palestra sobre o curso e finalmente apaixonou-se. Seu caminho foi tortuoso e ainda será, tenho certeza, mas a possibilidade de trilhar vários caminhos é o que o mantém firme.

Eu sempre quis ser professora. Sempre mesmo. Uma certeza que me deixava feliz por um lado e revoltada por outro. Queria ter dúvidas igual a todo mundo, mas essa certeza era certa demais e decidi provocar a mim mesma. Terminei o colegial e fiz uma série de cursos livres, depois fiz curso técnico de secretariado e por fim fui fazer Letras. O primeiro ano foi fantástico e doloroso, enquanto para muitos o inglês é um idioma fácil, fantástico e “fashion” para mim era terrível. Interrompi o curso e decidi que seria publicitária. Não agüentei um mês. Então parei de inventar moda, fui fazer um curso de inglês para dominar o medo e voltei dessa vez para ficar, parodiando piegasmente o Rei da Jovem Guarda, imaginando todas as dificuldades que ainda virão e que as superarei porque os sonhos nos dão uma força extraordinária, sobrenatural.

Nós seis aqui citados, e com certeza o restante da turma que não se pronunciou abertamente, temos uma crença em comum: a palavra tem poder. Um poder que se sobrepõe aos sistemas políticos, às religiões, às raças... Enfim, a todas as diferenças que podem existir entre nós, seres humanos. Ela faz sorrir e faz chorar, crer e descrer, ser e não ser, construir e destruir. É pelo seu poder que nós buscamos estudá-la, compreendê-la, desvendá-la numa atitude de estudarmos nossa história, compreender nossa sociedade e desvendar nosso mundo. Nunca chegaremos à plenitude do conhecimento e do poder da palavra, mas nunca deixaremos de lado essa busca.

Voltando a pergunta inicial e ao assombro que é este curso, nós estamos estigmatizados porque quando pensam em Letras só pensam em magistério e sabemos que a educação, hoje, não é levada tão a sério ou valorizada. Nós acreditamos nela e faremos o possível e o impossível para gritar ao mundo essa mensagem.

Acreditamos na educação e em todas as outras áreas que o curso nos prepara e nos possibilita atuar: tradutor, intérprete, redator, consultor, revisor e editor.

Estamos aqui para agitar o curso, divulgá-lo, melhorá-lo e torná-lo, ainda mais se for possível, inesquecível para nós. Uma daquelas lembranças que sorriremos ao lembrar e que contaremos aos netos como uma história fantástica.

O “post” ficou longo eu sei e por isso peço desculpas, mas trata-se do primeiro e muita coisa precisava ser dita a fim de juntarmos nossas forças e fazer acontecer.

Sejam bem vindos!

Até a próxima.

Etiene - 4ª Semestre